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7 de abr. de 2012

Azáfama #0


Tobias já estava saindo de casa para a faculdade, mais uma vez atrasado, passou pelo seu cachorro maionese um vira-lata com pelos de cor preta que percorria por todo seu minúsculo corpo, exceto ao redor do seu olho esquerdo, que possuía uma circulo branco que também preenchia sua orelha esquerda.

Lucia, Mãe de Tobias estava na sala assistindo o noticiário do meio dia, um tele jornal tipicamente brasileiro, recheado de violência, mortes, perolas literárias e bastante apologia à ignorância.

Isso na visão de Tobias, que acaba de saltar pelos pés de Lucia que estavam erguidos no centro da sala, separando a televisão do sofá onde estava sentada.

Lucia uma senhora de cinquenta e quatro anos, de cabelos bastante grisalhos, possuía rugas bem marcadas de sua vida sofrida e batalhadora. Viúva perdeu o marido em um acidente de trabalho, causado por uma caneta bic azul e um saco de batatas.

Severino seu marido, coçava sua orelha direita com a ponta da caneta bic, quando repentinamente um saco de batatas mal colocado sobre amontoados de sacos de batatas, caiu subitamente em cima de seu braço, fazendo com que a caneta bic azul perfurasse os tímpanos.

O que fez com que perdesse a audição, por conta de uma inflamação causada por uma hemorragia que acabou coincidentemente matando-o.
Com a morte de Severino, causada por acidente de trabalho, Lucia e Tobias ganharam na justiça uma pensão da empresa por conta do acidente, onde Lucia consegue com o dinheiro comprar seus remédios antidepressivos, pagar as contas e se dedicar a seus dons artísticos, o artesanato e a costura. Enquanto Tobias, violinista, violista, flautista, pianista e percussionista, tinha uma coleção invejável de instrumentos.
Tobias tem uma longa caminhada até a faculdade onde estuda, apesar de ser meio dia e quinze Tobias demora cerca de uma hora e quinze para chegar ao seu destino.

Tobias e Lucia, apesar de serem dois, formam uma família muito encantadora, por seus dons artísticos e por o carinho de mãe e filho, que poucas mães e filhos conseguirão desfrutar um dia em suas vidas.

Todos os dias Tobias faz o mesmo percurso, de casa para a faculdade, da faculdade para casa, normalmente sem alterações ou algo diferente nesses intervalos de espera de ônibus, uma monotonia insuportável, que só muda quando Tobias é assaltado, ou paquerado por alguma passageira de uma de suas conduções.

E hoje curiosamente não será um dia normal para Tobias, que acabara de chegar à parada de ônibus segundos depois que sua condução acabasse de passar, deixando aquela poeira de barro desagradável no ar, que o nariz de Tobias inalava de forma ofegante.

— Maldito 7567!!!

Tobias não sabia que o ônibus que acabara de perder estava sendo assaltado por um homem chamado Doniraildo “o sufista” (conhecido assim por sua fama de subir nos ônibus pulando em locais altos para depois assaltá-los).

Doniraildo estava fazendo "o rapa" em vários ônibus nesta semana. Lucia mãe de Tobias conhece muito a fama desse elemento por conta dos programas que assiste ao meio dia.

[Horas Depois]

Tobias voltando para casa escutava um dos passageiros que contara ao cobrador como foi o assalto, e o como perdeu seus pertences.

— Jorginho, você não acredita! Parecia até cena de filme policial, o cara desceu pelo vidro do nada já rendendo Manuel que estava contando o dinheiro, foi impressionante rapaz! Ele tomou o dinheiro de Manuel, que quando Manuel deu conta e olhou de forma irritada já estava com a arma no meio da testa. Silenciosamente ele mandou que Manuel se levantasse e que se prendesse em umas algemas de “policial de verdade” em um dos bancos que fica atrás do cobrador dizendo...

“— Se fizer um piu eu atiro em você!”

— Eita! Marginal metido!

— Me deixa contar o resto, sim?

— Vá conte, por favor.

— De repente ele vai pra frente do busão, onde estava Duda (o motorista), e eu que estava em uma das cadeiras da frente.

“— Motorista, fique calmo que isso é um assalto”!

— Nessa hora Duda achou que era brincadeira e foi falar com o homi.

“— Deixe de brincadeira cabra, não ver que eu quase morri com isso”?!

— Mas assim que viu a cara do bendito só faltou se cagar de medo.

“— Apois não morra não! Pois preciso de tu pra dirigir esse latão!!”.

 — Nessa hora foi um silencio que só você estando lá você  não acreditaria que o ônibus estava vazio. O sufista olhou pra mim e disse... “— Você! Pega essa sacola e vá pegando tudo desse povo, e quem num tivé nada pá dá, vai levar tiro, nem que me dê as calçolas pra compensar, principalmente as múie”.

— Né que todo mundo saiu jogando celular, carteira, relógio, sem falar nada?! Ou esconder nada?! Fiquei até assustado.

— E tu desse o que homem? Para o bandido?

— Meu celular e minha carteira, depois que eu dei a sacola pra ele, ele ficou no busão depois mandou Duda dobrar pela mata, onde desceu e um carro o pegou.

— Tenho até medo dessas coisas, Manuel foi muito esperto, ficou calado na dele, e não fez nada, meu medo é reagir em algo desse tipo.

— Pois é Jorginho, pois tenha cuidado, e fique em paz, já vou descer, espero que nada lhe aconteça, Deus te abençoe e boa semana santa pra você.

— Amém Luiz, que assim seja para você também meu amigo. Vá com Deus iluminado lhe abençoando! Abrace sua família bem forte porque hoje você nasceu de novo.

— Eu vou fazer isso mesmo meu amigo, eu vou fazer isso mesmo, boa noite.

Luiz saiu de trás do ônibus pediu parada, desejou boa noite e uma boa semana santa, para Chico o motorista e desceu.

Tobias se levantou, a próxima parada é a dele, desejou sorte ao cobrador Jorginho, que sorriu de forma envergonhada, desejou boa semana santa, e repetiu o mesmo que Luiz fez para Chico, que o retribui com um “-Para você também, boa noite”.

Apesar do acontecimento lamentável, o dia de Tobias não tinha sido ruim, perdeu o ônibus que foi assaltado, e valeu a pena ter chegado um pouco atrasado na faculdade já que o professor das três primeiras aulas já estava curtindo a semana santa com a família.

Tobias desceu do ônibus, mas antes que o ônibus desse a partida ele avista um rapaz de idade um pouco mais velha que ele, com mochila nas costas, pedindo parada e Chico sem observar.

Tobias vendo o caso acenou para Chico avisando do rapaz, fazendo com que o rapaz conseguisse subir para o ônibus. Grande gesto de bondade em inicio de semana santa tudo dando certo, desejou sorte e paz para o ônibus em seu pensamentos já que o ônibus estava dobrando o sinal e pegando rumo de mais um destino.

Sorte que não durou muito tempo, afinal o rapaz que Tobias ajudou era Doniraildo “o sufista” que fazia seu ultimo serviço para passar a semana santa em paz.

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