Tobias já estava saindo de casa
para a faculdade, mais uma vez atrasado, passou pelo seu cachorro maionese um
vira-lata com pelos de cor preta que percorria por todo seu minúsculo corpo,
exceto ao redor do seu olho esquerdo, que possuía uma circulo branco que também
preenchia sua orelha esquerda.
Lucia, Mãe de Tobias estava na sala
assistindo o noticiário do meio dia, um tele jornal tipicamente brasileiro,
recheado de violência, mortes, perolas literárias e bastante apologia à
ignorância.
Isso na visão de Tobias, que acaba
de saltar pelos pés de Lucia que estavam erguidos no centro da sala, separando
a televisão do sofá onde estava sentada.
Lucia uma senhora de cinquenta e
quatro anos, de cabelos bastante grisalhos, possuía rugas bem marcadas de sua
vida sofrida e batalhadora. Viúva perdeu o marido em um acidente de trabalho,
causado por uma caneta bic azul e um saco de batatas.
Severino seu marido, coçava sua
orelha direita com a ponta da caneta bic, quando repentinamente um saco de
batatas mal colocado sobre amontoados de sacos de batatas, caiu
subitamente em cima de seu braço, fazendo com que a caneta bic azul perfurasse
os tímpanos.
O que fez com que perdesse a
audição, por conta de uma inflamação causada por uma hemorragia que acabou
coincidentemente matando-o.
Com a morte de Severino, causada
por acidente de trabalho, Lucia e Tobias ganharam na justiça uma pensão da
empresa por conta do acidente, onde Lucia consegue com o dinheiro comprar seus
remédios antidepressivos, pagar as contas e se dedicar a seus dons
artísticos, o artesanato e a costura. Enquanto Tobias, violinista,
violista, flautista, pianista e percussionista, tinha uma coleção invejável de
instrumentos.
Tobias tem uma longa caminhada até
a faculdade onde estuda, apesar de ser meio dia e quinze Tobias demora cerca de
uma hora e quinze para chegar ao seu destino.
Tobias e Lucia, apesar de serem
dois, formam uma família muito encantadora, por seus dons artísticos e por o
carinho de mãe e filho, que poucas mães e filhos conseguirão desfrutar um dia
em suas vidas.
Todos os dias Tobias faz o mesmo
percurso, de casa para a faculdade, da faculdade para casa, normalmente sem
alterações ou algo diferente nesses intervalos de espera de ônibus, uma
monotonia insuportável, que só muda quando Tobias é assaltado, ou paquerado por
alguma passageira de uma de suas conduções.
E hoje curiosamente não será um dia
normal para Tobias, que acabara de chegar à parada de ônibus segundos depois
que sua condução acabasse de passar, deixando aquela poeira de barro
desagradável no ar, que o nariz de Tobias inalava de forma ofegante.
— Maldito 7567!!!
Tobias não sabia que o ônibus que
acabara de perder estava sendo assaltado por um homem chamado Doniraildo “o sufista”
(conhecido assim por sua fama de subir nos ônibus pulando em locais
altos para depois assaltá-los).
Doniraildo estava fazendo "o rapa" em
vários ônibus nesta semana. Lucia mãe de Tobias conhece muito a fama desse
elemento por conta dos programas que assiste ao meio dia.
[Horas Depois]
Tobias voltando para casa escutava
um dos passageiros que contara ao cobrador como foi o assalto, e o como perdeu
seus pertences.
— Jorginho, você não acredita!
Parecia até cena de filme policial, o cara desceu pelo vidro do nada já
rendendo Manuel que estava contando o dinheiro, foi impressionante rapaz! Ele
tomou o dinheiro de Manuel, que quando Manuel deu conta e olhou de forma
irritada já estava com a arma no meio da testa. Silenciosamente ele mandou que Manuel
se levantasse e que se prendesse em umas algemas de “policial de verdade” em um
dos bancos que fica atrás do cobrador dizendo...
“— Se fizer um piu eu atiro em você!”
— Eita! Marginal metido!
— Me deixa contar o resto, sim?
— Vá conte, por favor.
— De repente ele vai pra frente do
busão, onde estava Duda (o motorista), e eu que estava em uma das cadeiras da
frente.
“— Motorista, fique calmo que isso
é um assalto”!
— Nessa hora Duda achou que era
brincadeira e foi falar com o homi.
“— Deixe de brincadeira cabra, não
ver que eu quase morri com isso”?!
— Mas assim que viu a cara do
bendito só faltou se cagar de medo.
“— Apois não morra não! Pois
preciso de tu pra dirigir esse latão!!”.
— Nessa hora foi um silencio que só você
estando lá você não acreditaria que o ônibus estava vazio. O sufista olhou pra mim
e disse... “— Você! Pega essa sacola e vá pegando tudo desse povo, e quem num
tivé nada pá dá, vai levar tiro, nem que me dê as calçolas pra compensar,
principalmente as múie”.
— Né que todo mundo saiu jogando
celular, carteira, relógio, sem falar nada?! Ou esconder nada?! Fiquei até assustado.
— E tu desse o que homem? Para o
bandido?
— Meu celular e minha carteira,
depois que eu dei a sacola pra ele, ele ficou no busão depois mandou Duda dobrar
pela mata, onde desceu e um carro o pegou.
— Tenho até medo dessas coisas,
Manuel foi muito esperto, ficou calado na dele, e não fez nada, meu medo é
reagir em algo desse tipo.
— Pois é Jorginho, pois tenha
cuidado, e fique em paz, já vou descer, espero que nada lhe aconteça, Deus te
abençoe e boa semana santa pra você.
— Amém Luiz, que assim seja para
você também meu amigo. Vá com Deus iluminado lhe abençoando! Abrace sua família
bem forte porque hoje você nasceu de novo.
— Eu vou fazer isso mesmo meu
amigo, eu vou fazer isso mesmo, boa noite.
Luiz saiu de trás do ônibus pediu
parada, desejou boa noite e uma boa semana santa, para Chico o motorista e
desceu.
Tobias se levantou, a próxima parada
é a dele, desejou sorte ao cobrador Jorginho, que sorriu de forma envergonhada,
desejou boa semana santa, e repetiu o mesmo que Luiz fez para Chico, que o
retribui com um “-Para você também, boa noite”.
Apesar do acontecimento lamentável,
o dia de Tobias não tinha sido ruim, perdeu o ônibus que foi assaltado, e valeu
a pena ter chegado um pouco atrasado na faculdade já que o professor das três
primeiras aulas já estava curtindo a semana santa com a família.
Tobias desceu do ônibus, mas antes
que o ônibus desse a partida ele avista um rapaz de idade um pouco mais velha
que ele, com mochila nas costas, pedindo parada e Chico sem observar.
Tobias vendo o caso acenou para Chico
avisando do rapaz, fazendo com que o rapaz conseguisse subir para o ônibus. Grande gesto de bondade em inicio de semana santa tudo dando certo, desejou
sorte e paz para o ônibus em seu pensamentos já que o ônibus estava dobrando o sinal e pegando rumo de mais
um destino.
Sorte que não durou muito tempo,
afinal o rapaz que Tobias ajudou era Doniraildo “o sufista” que fazia seu
ultimo serviço para passar a semana santa em paz.
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