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23 de abr. de 2012

Menino Estranho


Ele era um menino estranho, sim estranho, estranho no modo de agir, no jeito de pensar, e por sua aparência de formatos não simétricos de seu corpo.
Era um garoto estranho, com gostos estranhos, e amigos estranhos, que não entendiam a estranheza dele.
Escrevia de maneira estranha, jogava bola de jeito estranho, se escondia de forma estranha.

Adorava dias estranhos, e sempre tinha uma história estranha que acontecia com ele. Tão estranhas que seriam estranhas de mais para serem verdades.

Como no dia que contou que ganhou da chuva sem se molhar, em uma corrida... Ou no dia que deixou de ser o garoto mais lento da rua, para se tornar o segundo mais rápido, consequentemente depois estranhamente o primeiro... Ou pelo menos o que demorava mais para se cansar nas estranhas partidas de futebol, permanecendo com a mesma velocidade estranha mesmo quando suas pernas, o os ossos de seus joelhos imploravam por descanso... Ou quando um caminhão estranho deu a partida com ele embaixo e ele sobreviveu.

No dia que ele foi atropelado por uma carro quando atravessava a rua e só arranhou o joelho, e no dia que ele caiu do muro se ralou mais do que quando foi atropelado... Ou como no dia estranho que foi ameaçado de morte no catecismo... Ou como no dia que foi estranhamente ameaçado de morte na escola.

Escrevia da direita para esquerda, e sempre começava pelo verso da folha, nunca pela frente.

Falava prrraia, aprrreia, prrreda, entrrrrrega.

E somava da esquerda para direita, e escrevia o número 1 de baixo para cima. Quando contava em voz alta sempre demorava quando chegava um número que terminava com 9.

Fazia desenhos estranhos no papel, e nas paredes, adorava o Van Gogh mesmo sem fazer a mínima ideia de quem era.

Cinema em casa e sessão da tarde, só assistia com um costume estranho, sempre acompanhado de biscoito recheado de chocolate e um copo de água gelada.

Tinha um medo estranho do quadro da capela cistina, e fazia piadas estranhas com o nome do Picasso.

Estranhava os adultos, adorava o som estranho do rock in roll.

Detestava a musica estranha de natal da Simone, e estranhava sem entender porque o cantor Roberto Carlos era chamado de rei.

Falava muitos palavrões sem saber o significado de sessenta por cento deles, não entendia porque estirar dedo era algo estranho e vulgar para os adultos.

Tentou entender o sentido estranho da vida. Entendeu perfeitamente essa filosofia estranha, minutos antes de ter conhecido uma garota estranha, se casaram em um lugar estranho, tiveram quatro filhos estranhos.

Hoje ele e sua mulher são normais e caretas, e não conseguem entender, as estranhezas de seus netos.

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