Ele era um menino estranho, sim
estranho, estranho no modo de agir, no jeito de pensar, e por sua aparência de
formatos não simétricos de seu corpo.
Era um garoto estranho, com gostos
estranhos, e amigos estranhos, que não entendiam a estranheza dele.
Escrevia de maneira estranha,
jogava bola de jeito estranho, se escondia de forma estranha.
Adorava dias estranhos, e sempre
tinha uma história estranha que acontecia com ele. Tão estranhas que seriam
estranhas de mais para serem verdades.
Como no dia que contou que ganhou
da chuva sem se molhar, em uma corrida... Ou no dia que deixou de ser o garoto
mais lento da rua, para se tornar o segundo mais rápido, consequentemente
depois estranhamente o primeiro... Ou pelo menos o que demorava mais para se
cansar nas estranhas partidas de futebol, permanecendo com a mesma velocidade
estranha mesmo quando suas pernas, o os ossos de seus joelhos imploravam por
descanso... Ou quando um caminhão estranho deu a partida com ele embaixo e ele
sobreviveu.
No dia que ele foi atropelado por
uma carro quando atravessava a rua e só arranhou o joelho, e no dia que ele
caiu do muro se ralou mais do que quando foi atropelado... Ou como no dia
estranho que foi ameaçado de morte no catecismo... Ou como no dia que foi
estranhamente ameaçado de morte na escola.
Escrevia da direita para esquerda,
e sempre começava pelo verso da folha, nunca pela frente.
Falava prrraia, aprrreia, prrreda,
entrrrrrega.
E somava da esquerda para direita,
e escrevia o número 1 de baixo para cima. Quando contava em voz alta sempre demorava quando chegava um número que terminava com 9.
Fazia desenhos estranhos no papel,
e nas paredes, adorava o Van Gogh mesmo sem fazer a mínima ideia de quem era.
Cinema em casa e sessão da tarde,
só assistia com um costume estranho, sempre acompanhado de biscoito recheado de
chocolate e um copo de água gelada.
Tinha um medo estranho do quadro da
capela cistina, e fazia piadas estranhas com o nome do Picasso.
Estranhava os adultos, adorava o
som estranho do rock in roll.
Detestava a musica estranha de
natal da Simone, e estranhava sem entender porque o cantor Roberto Carlos era
chamado de rei.
Falava muitos palavrões sem saber o
significado de sessenta por cento deles, não entendia porque estirar dedo era
algo estranho e vulgar para os adultos.
Tentou entender o sentido estranho
da vida. Entendeu perfeitamente essa filosofia estranha, minutos antes de ter
conhecido uma garota estranha, se casaram em um lugar estranho, tiveram quatro
filhos estranhos.
Hoje ele e sua mulher são normais e
caretas, e não conseguem entender, as estranhezas de seus netos.
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