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18 de abr. de 2012

Uma Latinha de Futebol.


Abril de 2006

Hoje vi um garoto brincando com uma latinha de refrigerante, fazendo dela uma bola de futebol, levantou a latinha de letra e conseguiu fazer embaixadinhas, parecia até que tinha um micro fio, que ligava a latinha de refrigerante com o seus pés descalços.

Ele brincava com a latinha, como um maestro consegue escutar os múltiplos instrumentos sabendo a sonoridade e suavidade de todos os que os tocam em sua orquestra. Ou talvez como um grande roteirista como De Vere, ou surreal como o Salvador (Dali).

Se ele estivesse em cima de um palco, ou no campo de um estádio de futebol, com certeza as pessoas aplaudiriam esse talento, se é que posso chamar essa habilidade de levantar uma latinha de refrigerante de letra e ficar movendo de um pé para o outro, de forma com que ela desse vários giros na sua vertical, caindo sempre com a boca da latinha para cima, ou quando ele só tocava com os pés nas pontas laterais da latinha fazendo com que ela girasse na horizontal e sem que ela caísse no chão. Que equilíbrio impressionante.

Pena que durou pouco, um Senhor com cara de ex-militar, com idade de ter servido na época da ditadura. Pegou a latinha de refrigerante do garoto, na hora em que seria o momento mais sublime de todas as embaixadinhas, "equilibrar a latinha de refrigerante com a cabeça". 

ISSO MESMO SENHORAS E SENHORES! O MOLEQUE JOGOU A LATINHA DOS SEUS PÉS PARA SUA CUCA, E CONSEGUIU FAZER COM QUE ELA FICASSE COM A BOCA DA LATINHA PARA CIMA!
As pessoas foram ao delírio durante aqueles 6 segundos de emoção. Na verdade pelo menos eu e o seu Salvador(não o Dali) dono de uma barraquinha de guloseimas(desencarnado palavras velhas), que estava conversando comigo enquanto eu esperava o infeliz do ônibus (666) 003.
— — Seu Salvador comentou comigo que o menino era danado... Disse que uma vez ele viu o menino bater embaixadinha com uma caixinha de toddynho, e o mais engraçado era que ele passava a caixinha para o seu pé só com as pontas que preenchiam as laterais da caixinha.

— Para de graça seu Salvador!!! O senhor está de brincadeira.

Seu salvador possui uma dos bigodes mais pitoresco que eu já vi na vida, lembra muito a do xará dele, — aquele... Outro lá, o Salvador das pinturas. A diferença é que ao bigode dele é branco. Ele até tem um pente só para pentear o bigode, mas isso é um detalhe besta.
O que mais me impressionava em seu Salvador, mais que a paciência que ele tinha de ficar naquele sol queeente, os cinco dias da semana, com aquela barraquinha aberta, e sua blusa de botão que nem parecia que tinha botão. Era a sua habilidade de passar troco errado, e sempre ganhando para ao seu favor, não importava o que você comprasse, o risco de sair pagando centavos mais caros era grande.— —

O ex-militar tirou a latinha da cabeça do menino, e continuou andando, como se não tivesse feito nada. O garoto ficou sem ação, deu um giro de trezentos e sessenta graus com a boca aberta de surpresa e por não acreditar naquilo que acontecia, sentou no meio fio, apoiou os cotovelos em seus joelhos pequenos, e as mãos no rosto em forma de concha, com as palmas de mão apoiando as suas bochechas,

Eu coloquei as mãos no meu rosto, parecia até que o Deivid tinha perdido outro gol sem goleiro de novo.

Seu salvador ficou possesso, fechou a cara e soltou aquela frase de desdém típica de brasileiro. 

— FILHO DE UMA P#¨*!

Não contente com o acontecido, aprovei a atitude de seu Salvador e gritei junto.

— FILHO DA P¨#%! FILHO DA @U*@! FILHO DA @$T&!

Parecia até que estávamos xingando um juiz de futebol, até o garoto e as pessoas que estavam perto da parada de ônibus gritaram junto com a gente (salientando que eram meus ex-colegas de sala). (Para atitudes revoltosas nós eramos muito unidos).

O ex-militar parou. Lançou um olhar reprovador, para as pessoas que gritavam seu nome, de forma escandalosa.

Uma das pessoas que estavam chamando o ex-militar pelo seu nome, estava atravessando a rua para pedir a latinha de volta, eu intervi.

— Bolinha, Deixa o velho.

Seu Salvador murmura, — é melhor da uma bola para o garoto.

E foi o que fizemos.

Fim.

Machine 40 

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